28 de junho de 2015

Dez e quarenta e sete

Não tenho jogo.

Sei que devia parar, fazer fold e agarrar-me ao pouco que me resta.

Mas não quero. Quero ignorar a consciência que berra, respirar fundo e abraçar o risco.

O dano é tão grande que já não me importa o que vem a seguir.

Vou all in. O coração que estava nas mãos desfaz-se aos meus pés.

Perdi.

18 de junho de 2015

Uma e quarenta e um

Tenho marcas na pele.

Manchas. Estrias. Cicatrizes.

Manchas que não eram minhas e se foram instalando. Que cresceram comigo como se me abraçassem, agarrassem ou beijassem o pescoço.

Estrias. Do tempo em que não havia tempo e em que tinha de haver para poder chegar ao fim da luta. Tempo em que a luta pelo sonho foi tão feroz que o corpo se esqueceu dele mesmo. Tempo que chegou ao dia em que rasguei a meta e a pele rasgou-se com ela.

Cicatrizes das pequenas e das grandes guerras. Do primeiro trabalho, do stress que libertei em mim mesma, pela mão da minha primeira grande desilusão.

Tenho marcas na pele.

Tenho marcas que se instalam em mim sem remédio e que, mesmo que eu queira, não me deixam esquecer.

Marcas que são defeito.
Marcas que são orgulho..
Marcas que na sua fealdade são o mais belo que há em mim.

16 de junho de 2015

Uma e cinquenta e sete

E então eu fecho a porta.

Só quando fecho a porta o dia acaba e a noite surge.
E então cai a roupa e arrepio-me e somente assim eu me sinto eu.

Eu não queria mais nada.
Queria só que fosse noite cerrada.

Tempo sem certos nem errados, valores ou compromissos.

Os lábios molhados.
A adrenalina.
O frio que percorre a espinha e ferve ao chegar.

O suor.
O descontrolo.

O doce da saliva, a dor e o travo do sangue.

A dor.
O gozo.

A dor.

O momento em que eu não sou eu.
E sem ser nada, sou livre, sou mais eu do que nunca.

Como pode ser errado?